Representantes de indústrias do Rio Grande do Sul
cobraram do governo federal uma posição mais firme contra barreiras impostas
pela Argentina a produtos brasileiros. Em audiência pública nesta terça-feira
(12), na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH),
empresários gaúchos relataram prejuízos à economia do Brasil devido a medidas
unilaterais adotadas pelo país vizinho.
As relações comerciais se agravaram quando o
governo de Cristina Kirchner impôs novas exigências para importação de bens de
consumo e adotou como regra que cada dólar importado corresponda à exportação
de mesmo valor.
Ao abrir o debate, o presidente da CDH, Paulo Paim
(PT-RS), informou que, nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações do
Rio Grande do Sul para Argentina já registram queda de 10%, com déficit em 36
dos 62 setores de exportação.
O setor industrial brasileiro espera uma atitude
mais rigorosa do governo federal, na opinião de Cláudio Affonso Amoretti Bier,
vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(Fiergs) e presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos
Agrícolas do Rio Grande do Sul.
- O governo brasileiro tem sido fraco nas
represálias ao governo argentino. O governo da Argentina faz o que quer, tranca
as barreiras e gera dificuldades para as empresas brasileiras - disse.
Conforme informou, o bloqueio argentino tem
impedido a entrada de máquinas agrícolas já negociadas, muitas aguardando
liberação há mais de um ano. No mesmo sentido, Marcos Oderich, diretor
comercial da indústria de conservas Oderich, informou que mais de 50 carretas
de sua empresa, com 3,6 milhões de latas de milho verde, aguardam para cruzar a
fronteira.
- A Argentina não segue as regras da OMC. A cada
momento impõe uma nova lei, uma nova prática e não temos uma moeda de troca.
Hoje, vivemos em estado de insegurança e prejuízos - disse.
Os problemas também afetam outros setores, como o
de carne suína, móveis e calçados, conforme informou o deputado federal Osmar
Terra (PMDB-RS). Na opinião do parlamentar, estaria em curso um processo para
forçar a transferência de empresas brasileiras para a Argentina.
- Muitas indústrias acreditaram no Mercosul e se
instalaram no Rio Grande do Sul. Agora, estão sendo constrangidas a instalar
novas plantas na Argentina, para garantir mercado.
Para o deputado, o governo brasileiro é mais
sensível aos problemas das indústrias paulistas. O bloqueio a carros fabricados
na Argentina, disse, foi adotado assim que aquele país impôs barreiras à
entrada de automóveis brasileiros, não sendo verificada a mesma agilidade de
resposta quando os problemas são em outros estados.
Mercosul
Na avaliação do professor Newton da Silva Marques,
da Universidade de Brasília (UnB), as medidas tomadas unilateralmente pela
Argentina representam "um tiro no pé" e podem inviabilizar o
Mercosul. Também o economista José Ricardo Costa e Silva criticou a estratégia
argentina, a qual, segundo ele, terá graves efeitos negativos no longo prazo.
Para o economista, seria um erro o Brasil adotar
medidas de retaliação contra a Argentina, que não resolveriam os problemas das
empresas brasileiras e comprometeriam as relações no Mercosul. O melhor, disse,
seriam medidas para fortalecer a economia brasileira e a participação do Brasil
no bloco, como a desoneração em todos os setores.
Amoretti Bier discorda. Para o vice-presidente da
Fiergs, ao não adotar uma atitude forte contra as barreiras argentinas, o
Brasil ajuda aquele país à custa de desemprego no Rio Grande do Sul.
Na opinião da senadora Ana Amélia (PP-RS), estaria
havendo uma inversão de princípios do Mercosul, que foi criado para que os
quatro países membros se integrassem e vendessem para outros mercados.
- O erro foi não ter sido mantido esse princípio de
produzir internamente e vender com o selo do Mercosul. Houve uma inversão desse
princípio e os países [do bloco] passaram a ser concorrentes - disse.
Para ela, hoje se vive uma guerra comercial, que
deve ser enfrentada com instrumentos comerciais, no âmbito da Organização
Mundial de Comércio. Ana Amélia também sugeriu que o Brasil imponha à Argentina
barreiras ambientais, como as que são impostas quando da exportação de produtos
brasileiros à Europa.
No debate, o senador Wellington Dias (PT-PI)
lembrou o papel do Rio Grande do Sul nas relações brasileiras no Mercosul e
defendeu o fortalecimento do parlamento do bloco, o Parlasul.
(Fonte:
Agência do Senado)
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