No
início da década passada, escrevemos artigos sobre as vantagens de termos a
Área de Livre Comércio das Américas (Alca). E de participarmos dela. Engendrada
por George Bush, então presidente dos EUA, e aceita pelo nosso presidente na
época. Caminhava a passos lentos, mas andava. Com a troca de guarda na
presidência no início da década passada, a Alca foi enterrada. Algo
inexplicável, na ocasião, pelas vias lógicas.
Posteriormente,
com o passar dos anos, o mistério foi sendo desvendado. O grande irmão do norte
foi considerado satã pelo novo governo, e começamos a nos afastar dele. Nosso
comércio exterior com os EUA foi reduzido a menos da metade do que era no
governo anterior. E não só isso. Em política também. E começamos a nos
aproximar dos seus inimigos, fazendo-os nossos melhores amigos.
Continuamos,
como sempre, com acordos comerciais com um mínimo de países. Mais de 300
acordos no mundo, e temos apenas uma dezena deles. Enquanto dois dos nossos
parceiros, com quem temos acordos, México e Chile, têm acordos com cerca de 50
países e blocos. Com EUA, China, União Europeia etc.
Afastamento
político não precisava representar afastamento comercial. Vide a China, sempre ela
para servir de exemplo. Política de esquerda, economia de direita, sendo hoje,
provavelmente, o país mais capitalista do mundo. Com muito a nos ensinar, se
fôssemos bons alunos e quiséssemos aprender.
Mas,
como não temos tradição comercial externa e estamos eternamente girando em
torno de 1% ou pouco mais dele, parece que o mercado externo não nos atrai. Não
há esforço para isso. O que pode ser constatado pela alta carga tributária,
altos juros, baixo investimento, falta de acordos comerciais, displicência com
que tratamos nossa matriz de transporte e os modos utilizados.
Não
conseguimos ainda descobrir o que todo mundo já sabe, e vide a China,
novamente. Em 1979, nossa exportação era de 12,6 bilhões de dólares
norte-americanos. A da China, 9,7 bilhões. Em 2011, nossa exportação foi de 256
bilhões, a da China, 1,9 trilhão. O que dispensa comentários.
Não
conseguimos ainda ver a Alca como uma grande oportunidade, com seus 35 membros.
E nem os EUA como um grande mercado. O maior do mundo, com 307 milhões de
consumidores. Continuamos sem entender por que o País mistura política com
economia e continua contra a Alca, em vez de encará-la como uma grande
oportunidade.
Aliás,
estamos sendo generosos, pois não é só contra a Alca, mas contra o mundo. Já
que se discute, discute e os acordos não saem. Vide União Europeia, África do
Sul, China, Índia, Rússia. Continuamos campeões olímpicos e mundiais em
natação. Só nada, nada, nada.
Precisamos
retornar às negociações com os mais diversos países para implementarmos acordos
comerciais. O que aumenta muito o comércio, em face do barateamento das
mercadorias. Vide, como exemplo, o Mercosul. Saímos de um comércio de três
bilhões de dólares norte-americanos para mais de 40 bilhões. E isso porque
temos todos esses problemas conhecidos entre nossos dois países. Que parecem
convencidos de que dezenas de boas brigas são bem melhores que um bom acordo. O
comércio poderia ser o dobro disso ou mais.
Parece
que nosso medo é ficarmos a reboque da economia do Tio Sam. O que não ocorreria.
Já tivemos muitos superávits anuais com eles. E são sempre eles que colocam
barreiras às nossas mercadorias e não o contrário. E mais incompreensível é que
não queremos acordo com eles, mas queremos com a União Europeia. É surreal.
George
Herbert:"A dedicação dá aos nossos sonhos as asas para se erguerem e
a força para voar."
Samir Keedi
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